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Leite materno – O poder imunológico que ele tem para o bebê

leite materno

O leite materno contém aproximadamente uma centena de componentes que não podem ser replicados no leite artificial. A cada dia, a ciência vem encontrando mais substâncias imunomoduladoras. Deve-se levar em conta que não se trata somente de que cada componente do leite atue em um órgão ou local determinado no corpo do bebê. Na verdade muitos deles atuam em vários locais e uma combinação deles também pode trabalhar conjuntamente para uma atuação diferente.

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Além dos componentes básicos (proteínas, carboidratos e gorduras), a composição do leite materno varia, sendo única para cada bebê. Por exemplo, as proteínas do leite materno possuem diversas funções: contém todos os aminoácidos essenciais, que atuam como fatores de proteção e transportam hormônios e vitaminas. As proteínas não são usadas como fonte calórica para o crescimento, sendo uma fonte energética mínima no leite materno.

O poder imunológico do leite materno

A mãe produz anticorpos criados especificamente para proteger o lactente contra os patógenos adquiridos no seu entorno.[1] Novos anticorpos são produzidos cada vez que a mãe entra em contato com microrganismos prejudiciais ou quando amamenta, pois há troca de microbiota da saliva do bebê para a mãe no ato da amamentação. Isto indica ao sistema imunológico que produza anticorpos que serão passados ao filho em próximas mamadas.

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Se o bebê toma leite artificial, terá somente seus próprios anticorpos (que são presentes em níveis baixos) e um sistema imunológico imaturo, se tornando extremamente vulnerável a infecções.

igamenor

Os seguintes componentes presentes no leite materno ajudam o lactente a se proteger de infecções:

Alfa-lactoalbumina:

É a principal proteína do leite materno, representando 10-20% da proteína total. Pesquisas mostraram [2] que esta proteína provoca apoptose (“suicídio celular”) de mais de quarenta tipos de câncer. O grupo sueco que fez a descoberta estava explorando as propriedades antibióticas do leite quando um pesquisador notou que as células cancerosas do pulmão em um tubo de ensaio morreram ao entrar em contato com leite materno.

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Foi descoberto então que quando a alfa-lactoalbumina se mescla com ácidos (presentes no próprio leite materno ou no estômago de lactentes) se transforma num composto chamado de HAMLET (sigla em inglês para Alfa-lactoalbumina Humana Transformada em Letal para Células Tumorais). A pesquisa mostrou que, depois de 5 dias com tratamento com HAMLET, pacientes com câncer de bexiga urinavam células mortas de câncer após cada sessão de tratamento.

Estudos com ratos mostraram que, depois de sete semanas de tratamento um tumor cerebral – glioblastoma altamente invasivo era sete vezes menor no grupo tratado com HAMLET. O fator mais importante é que a substância não tem efeitos secundários, pois somente elimina o câncer e não danifica células sãs. O professor Karlsson (que conduziu os estudos) acredita que esta terapia estará sendo utilizada em 5 anos para pacientes adultos com câncer.

Células Tronco:

Estudos recentes mostram que o leite materno contém células-tronco pluripotentes [3]. Estas células têm uma notável capacidade de converterem-se em tipos diferentes de células no corpo, que por sua vez atuam como uma espécie de “sistema de reparação interna”. Estudos sugerem que estas células permanecem no corpo muito tempo depois do desmame. As células tronco de outras fonte são utilizadas para tratar leucemia e poderiam auxiliar no tratamento de afecções oculares. Cientistas também estão estudando seu potencial no tratamento de condições como lesões medulares, Diabetes e Doença de Parkinson.

Linfócitos T:

É conhecida a transferência de linfócitos T maternos para o lactente via amamentação [4]. Linfócitos T CD8+ são importantes na resposta imune citotóxica, eliminando células infectadas por vírus ou células tumorais, por exemplo.

Já os linfócitos T CD4+ são um subgrupo de linfócitos que se encarregam de coordenar a resposta imune celular. Estas células são peculiares pois não atuam diretamente destruindo células infectadas ou patógenos, e sim interagem com outras células do sistema imune, ativando-as e coordenando-as.

Imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM e IgD):

Imunoglobulinas podem ser transferidas para o bebê através da amamentação [4]. As mais importantes são as IgA, que recobrem as mucosas e protegem o bebê da entrada de microrganismos causadores de infecções, como E. coli, salmonella, shigella, estreptococo, estafilococo, pneumococo, poliovirus e rotavirus.

Macrófagos e Neutrófilos:

São os leucócitos (glóbulos brancos) mais comuns no leite humano [5] e atuam rodeando e destruindo bactérias patológicas. Os macrófagos também fabricam a lisozima, uma enzima que destrói bactérias mediante a desorganização de sua parede celular. Os macrófagos no trato digestivo podem recrutar linfócitos para atuação contra patógenos.

Lactoferrina:

É uma proteína que se une ao ferro e atua como fator de defesa, prevenindo o crescimento bacteriano e a formação de biofilmes.[6] A lactoferrina está atualmente sendo investigada como um imunomodulador em doenças como artrite reumatoide e esclerose múltipla.

Citocinas:

Acredita-se que participam de um importante papel da modulação e da proteção do sistema imune do leite materno [7]. A maioria das citocinas que são deficientes no recém-nascido se encontra em quantidades significativas no leite materno. Acredita-se que a principal citocina do leite materno seja a interleucina 7 (IL-7) , relacionada com o tamanho do timo, um dos órgãos centrais no sistema imunológico. Se descobriu uma correlação entre tamanho de timo e mortalidade infantil na Gâmbia [8], sendo levantada a hipótese da importância da IL-7 nesse processo [9 e 10].

Defensinas:

São peptídeos antimicrobianos inatos que participam de maneira importante na defesa contra invasão microbiana. Beta-defensinas são encontradas no leite materno [11] e podem proteger os lactentes contra infecções.

Fatores de Crescimento:

Fatores como EGF, M-CSF e TGF (Epidermal Growth Factor, Macrophage Colony Stimulating Factor e Transforming Growth Factor, respectivamente) são encontrados no leite materno [7] e contribuem para a maturação de sistemas fisiológicos do organismo do bebê, como no desenvolvimento da mucosa intestinal [12] e na imunomodulação. Os níveis do Fator de Crescimento Epidérmico são mais altos em mães que tem bebês prematuros, o que reduz drasticamente a taxa de Enterocolite Necrosante (ECN) e inflamação intestinal [13].

Programação/Imprinting metabólico:

Também existe a teoria de que estes fatores podem desempenhar um papel na “programação dos primeiros anos de vida”, que sugere que a fisiologia do indivíduo adulto (por exemplo, obesidade) e morbidade potencial (por exemplo, artrite reumatoide) está predeterminados nos primeiros anos de vida.[14 e 15]

Há muito tempo estudos tem vinculado a ausência de amamentação com maiores taxas de infecções de ouvido, câncer, diabetes, meningite, doenças respiratórias, artrite reumatoide (e outras afecções do sistema imunológico), doenças gastrointestinais e ECN, para nomear alguns de uma grande lista [16].

A medida que começamos a entender mais sobre que componente faz o que no leite materno, temos uma maior compreensão de por que os bebês que não são amamentados se tornam mais susceptíveis, não somente enquanto lactentes, mas em termos de saúde de longo prazo.

O resultado de tais observações é de que a amamentação exclusiva é essencial nos primeiros seis meses de vida do bebê [17], contribuindo para um desenvolvimento saudável e prevenindo infecções, assim diminuindo a mortalidade infantil e a morbidade futura dos indivíduos.

Artigo original: http://analyticalarmadillo.blogspot.com/2010/10/ask-armadillo-whats-in-breastmilk-but.html

Texto extraído na integra: http://www.aleitamento.com/amamentacao/conteudo.asp?cod=1830

Traduzido e editado por Rodrigo Santos, aluno de graduação da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Bibliografia:

 1.The mucosal immune system and its integration with the mammary glands.

J Pediatric, 2010. Brandtzaeg P. Centre of Immune Regulation, University of Olso, Norway.

2.Changes in proteasome structure and function caused by HAMLET in tumor cells. PLoS One, 2009. Gustafsson L et al. Lund University, Sweden.

3.Breastmilk is a novel source of stem cells with multilineage differentiation potential. Stem Cells, 2012. Hassiotou F et al. University of Western Australia, Australia.

  1. Immunological activities associated with milk. Adv Nutr Res, 2001. Kelleher SL, Lonnerdal B. Department of Nutrition, University of California, Davis, California, USA.
  1. Transfer of maternal leukocytes to the infant by human milk. Curr Top Microbiol Immunol, 1997. Goldman AS, Goldblum RM. Department of Pediatrics, University of Texas, USA.
  1. Lactoferrin, a bird’s eye view. Biochem Cell Biol, 2012. Vogel HJ. Biochemistry Research Group, University of Calgary, Canada.
  1. Cytokines in human milk: properties and potential effects upon the mammary gland and the neonate. J Mammary Gland Biol Neoplasia, 1996. Goldman AS et al. Department of Pediatrics, University of Texas, USA.
  1. Early immunological development and mortality from infectious diseases in later life. Proc Nutr Soc, 2006. Moore SE et al. MRC Keneba, The Gambia, West Africa.
  1. Improved thymic function in exclusively breastfed infants is associated with higher interleukin 7 concentrations in their mothers’ breast milk. Am J Clin Nutr, 2004. Ngom PT et al. Department of Immunology, Imperial College London, UK.

10.Interleukin 7 from maternal milk crosses the intestinal barrier and modulates T-cell development in offspring. PLoS One, 2011. Aspinall R et al. Department of Immunology, Imperial College London, UK.

11.First line of defense in early human life. Semin Perinatol, 2004. Yoshio et al. National Hospital Organization, Okayama Medical Center, Japan.

12.Effect of breast mlk and weaning on epithelial growth of the small intestine in humans. Gut, 2002. Cummins AG, Thompson FM. Bazil Hetzel Research Institute and the Department of Gastroenterology and Hepatology, The Queen Elizabeth Hospital, Adelaide, Australia.

13.Neonatal inflammatory intestinal diseases: necrotising enterocolitis and allergic colitis. Early Hum Dev, 2005. Fell JM. Paediatric Gastroenterology, Imperial College London, UK.

14.Early life programming of obesity. Med Wieku Rozwoj, 2013. Martin-Gronert MS, Ozanne SE. University of Cambridge Metabolic Research Laboratories, Cambridge, UK.

15.The influence of early life factors on the risk of developing rheumatoid arthritis. Clin Exp Immunol, 2011. Colebatch AN, Edwards CJ. Department of Rheumatology, University of Southampton, UK.

16.Breastfeeding protects against infectious diseases during infancy in industrialized countries. A systematic review. Matern Child Nutr, 2009. Duijts L et al. Department of Pediatrics, Erasmus Medical Center, the Netherlands.

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17.Optimal duration of exclusive breastfeeding. Cochrane Database Syst Rev, 2012. Kramer Ms, Kakuma R. Departments of Pediatrics and Epidemiology, Biostatistics and Occupational Health, McGill University, Montreal, Canada.

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