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Educando bebês

Educação vem de berço

Sim: é de pequeno que se ensinam limites. Seu bebê já é capaz de absorver as primeiras noções de certo e errado

Você tem receio de impor limites ao seu filho pequeno? Muitos pais têm, pois acham que uma postura mais firme pode traumatizar a criança ou deixá-la magoada. Acredite: é justamente o contrário. Como apontam especialistas em psicologia infantil, se os pais deixarem a condescendência de lado e, com sensibilidade, mostrarem ao bebê até onde ele pode chegar, estarão o fazendo se sentir mais amado e mais seguro.

Quando começam a engatinhar e andar, os bebês fazem do mundo um verdadeiro laboratório. E, como pequenos cientistas, testam todas as hipóteses incansavelmente. São capazes de mergulhar a mão no vaso sanitário, comer a ração do cachorro, sentir as emoções de escalar o armário ou de tomar um brinquedo das mãos de outra criança. Sem noção de higiene, perigo ou regras sociais, o céu é o limite para suas experiências. Na cabeça dos pais, fica a dúvida: até onde permitir que o pequeno vá?

Passar o dia escoltando o bebê pode limitar o aprendizado e a busca por autonomia. Por outro lado, fazer-se de ausente e deixá-lo totalmente livre gera insegurança. Educar uma criança é um longo e constante exercício de sinalizar “sim” ou “não” para as suas atitudes e reações, e muitos pais, depois de um dia exaustivo, relaxam na missão de colocar limites claros para os filhos. Mas o dever de estabelecer os comportamentos que são ou não aceitáveis vai muito além da disciplina e é importante desde o nascimento.

A seguir, características de cada fase do bebê, depois, veja as dicas de como educá- lo sem receio.

Primeiro Meses: Colo e aconchego

Acostumado aos limites do útero, o recém-nascido vive certo desconforto nas primeiras semanas. Além de não controlar o corpo nem os movimentos, a única forma de que ele dispõe para expressar necessidades é o choro – seja de fome, porque está molhado ou de “saudades” da mãe. Por isso, oferecer colo e aconchego traz conforto imediato a um bebê que chora sem razão aparente. Ao mesmo tempo, é preciso estabelecer uma rotina básica que organize a vida dele, com horários estabelecidos para sono, mamadas, banhos e trocas. “Essa ordenação constitui os primeiros limites apreendidos pela criança e ajuda a tranqüilizá-la”, diz a psicanalista Vera Ferrari, diretora do serviço de psicologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Os primeiros meses de vida também são importantes para determinar um padrão que pode influenciar comportamentos futuros. Por isso, se você é uma mãe do tipo ansiosa, controle-se. Entrar no quarto do bebê a cada dois minutos para ver se está tudo bem, oferecer o peito a toda hora, pegá-lo no colo só porque ele se mexeu e se antecipar às suas necessidades são atitudes que podem torná-lo dependente de atenção. “A criança se acostuma ao padrão que a mãe praticou desde cedo e passa a esperar que os seus desejos sejam atendidos antes mesmo de serem expressados”, explica Léa Schuster Albertoni, psicopedagoga e terapeuta familiar, diretora da escola Paulistinha, mantida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De maneira inversa, ignorar o choro de um bebê aflito só porque faltam dez minutos para a próxima mamada também está fora de questão. O ponto de equilíbrio é que a presença afetuosa da mãe transmita segurança, mas deixe espaço também para que, aos poucos, a criança descubra os próprios recursos para lidar com situações desafiadoras.

Mãe de Luiggi, de 6 meses, e de Filippo, de 3 anos, a consultora de novos negócios Priscila Vanelli, de São Paulo, atesta que alcançar esse equilíbrio nem sempre é fácil, mas é possível: “Quando não se tem tanta experiência, você age apoiada na intuição e na necessidade. Assim que meu primeiro filho nasceu, eu tinha apenas uma folga semanal. Se não organizasse a rotina e ficasse o tempo todo com ele no colo, nosso dia-a-dia se tornaria complicado”.

Quase um anjinho: a hora do poderoso “não”

Ele jogou o suco no chão e pulou em cima? Antes de pensar em sua criança como uma vilã de 9 meses que pretende irritá-la, considere que fazer distinções entre certo e errado não está entre as habilidades de um bebê tão novo. E ninguém melhor do que os pais para ensiná-lo desde cedo. As ousadias que realmente embutem um perigo, como mexer em tomadas, ferro de passar roupa ou panelas quentes, merecem atenção constante e ação educativa imediata. Se ele está no topo da escada, prestes a cair, tire-o dali e seja firme. Use um tom de voz grave e mantenha as feições sérias para dar peso ao “não”. Explicações elaboradas não funcionam nessa idade. Se quiser, justifique a intervenção com uma ou duas palavras que a criança entenda – por exemplo: “Não. A panela queima”.

Mas, se bastou seu filho ganhar um pouco mais de mobilidade para que a palavra “não” começasse a ecoar muitas vezes por dia na sua casa, talvez seja hora de você avaliar se não está exagerando nos cuidados e expectativas. “Há mães tão protetoras que calçam luvinhas no bebê para ele não sujar as mãos ao engatinhar”, conta a psicóloga Vera Ferrari. Outras tentam evitar a qualquer custo que ele coloque as mãos na boca. E há as que esperam que ele se comporte como um adulto diante das visitas e à mesa. O resultado é uma seqüência interminável de reprovações e, no futuro, uma pessoa com medo de ousar. “Em um ambiente tão restritivo, qualquer novidade parece uma transgressão para a criança. O risco é ela começar a recuar diante de situações novas. Essa atitude, de compasso de espera, pode se perpetuar”, alerta Vera Ferrari.

Por isso, convém não dar ênfase à sujeira que o bebê faz enquanto experimenta levar a colher à boca sozinho. Nas situações de aprendizado, a melhor atitude é a de apoio a cada conquista. Gestos e palavras de incentivo têm tanto poder quanto um “não” bem empregado. “Vale tudo para demonstrar aprovação: bater palmas, sorrir, abraçar, comemorar, elogiar. Essas são atitudes que educam positivamente”, ensina a psicopedagoga Léa Albertoni.

Dois aninhos: aprendendo a negociar

Nessa fase, a criança entra no que os especialistas chamam de “idade do não”, na qual o esporte predileto delas é discordar de tudo. É um teste de resistência para os pais, que não devem entender essas negativas como uma afronta pessoal nem como um desafio à autoridade deles.

Não são incomuns as explosões de furor, que desafiam até os pais mais experientes, principalmente quando as crianças fazem o espetáculo em público. Elas se jogam no chão, chutam, gritam, choram, derrubam tudo o que vêem pela frente, podem até morder e bater, colocando a própria segurança em risco. Para os pais, fica o constrangimento e a necessidade de retomar o controle da situação.

“O Aléssio parece que sente prazer em contrariar. Na hora de ir para o banho, foge correndo pela casa. Se o chamo para comer, fala ‘não’, quando vou trocar a fralda, é ‘não’. Essa virou a palavra favorita dele no último ano. É superdesgastante”, reclama a assessora de comunicação Daniela Estevão, de 33 anos, de São Paulo. Não se trata de uma demonstração de rebeldia precoce. O que a criança está testando é a própria autonomia, agora que suas habilidades de se expressar e de se locomover evoluíram bastante.

Para não atrapalhar a declaração de independência dela, é necessário que a família tenha paciência e jogo de cintura. Entrar em uma competição com o filho não vale a pena. Em vez disso, procure oferecer poucas alternativas para que ele escolha. Por exemplo, “você quer comer no prato de bichinho ou no azul?”, “quer vestir este casaco ou o de capuz?” etc. Outra medida para diminuir conflitos é explicar com simplicidade o que a criança pode (e o que não deve) fazer. Aos poucos, ela introjetará essas regras e entenderá que em certas coisas pode mexer, em outras não; que há locais para brincar à vontade, mas também existem lugares onde é preciso ficar quieta; que desenhar nas paredes do quarto onde há lousa é bacana, já na sala a mamãe fica brava… Mas prepare sua persistência, pois você precisará repetir muitas vezes essas lições.

É bom lembrar que situações desafiantes (escândalo no shopping, por exemplo) devem ser tratadas como exceção. Se foi resolvido, nada de ficar relembrando o episódio. É preciso estabelecer regras claras, que não se modifiquem com o humor ou a disposição dos pais. Os pequenos percebem quando isso acontece e podem tentar várias artimanhas até você ceder. E, se ao final, todos os argumentos e truques não forem suficientes para convencer o rebelde sem causa, vale apelar para um argumento incontestável: “Sou sua mãe, amo você e sei o que é melhor para você”.

Texto: Cristiane Ballerini e Cynthia Costa

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Fonte: Educar Para Crescer

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